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RELOGIO

domingo, 7 de julho de 2019

CURSO DE MANUSEIO E UTILIZAÇÃO DE ARMA DE FOGO






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rápida queima da pólvora.
Projétil: o projétil é um pequeno objeto ogival, de liga metálica de grande peso específico, destinado a ser empurrado pela expansão dos gases da detonação do tiro. Pode-se dizer que o projétil é o principal item da munição, ou melhor, que a munição existe em função dele, pois é ele que atingirá o alvo, matando ou ferindo o agressor. É, ademais, o diâmetro do projétil que determina o calibre da arma de fogo que o calça.
Os projéteis mais comuns são feitos de liga de chumbo (principalmente com estanho, antimônio ou arsênio), mas existem projéteis de diversos materiais. Os projéteis possuem uma base plana, onde será aplicada a pressão 
O projétil é fixado no estojo por um fechamento (chamado de crimp) da boca deste, que o mantém firmemente preso. Quando do disparo, além do estojo dilatar contra as paredes da câmara, afrouxando o crimp, o grande aumento da pressão dos gases força o projétil para frente, retirando-o, à força, de seu engaste.
O cartucho de arma de cano com alma lisa tem características particulares, apesar de ser em tudo semelhante ao do cartucho “a bala”. Os estojos de cartuchos de espingardas podem ser de metal, mas muito comumente são de plástico ou de papelão, possuindo apenas a base de latão (Fig. 25). Eles também possuem uma espoleta, do tipo bateria, uma carga de pólvora e uma bucha, que separa a pólvora dos bagos de chumbo, que são os projéteis (pode ser um só, no caso do balote). Esses cartuchos possuem um fechamento na boca, chamado de virola ou orladura.


2.2 – Calibres
 O calibre é, a princípio, o diâmetro do projétil, sendo, conseqüentemente, também o diâmetro do cano da arma. O nome do calibre é derivado da sua medida, ou seja, do seu diâmetro. Como os primeiros cartuchos surgiram na Europa e nos Estados Unidos, até hoje são esses os dois padrões de medida adotados, no mundo inteiro, para denominar um calibre. O padrão europeu é a medida em milímetros, enquanto que o dos EUA é a medida em centésimos ou mesmo milésimos de polegada. Existe ainda um padrão à parte, diferenciado, para espingardas, criado na Inglaterra, do qual falaremos em seguida.
 A maioria dos calibres mais conhecidos e mais usados tem tanto uma designação norte-americana quanto uma européia, sendo indistintamente chamado por um nome ou pelo outro, conforme o gosto do fabricante do cartucho ou de seu usuário.
Cabe esclarecer que, além da sua medida - seja em milímetros, seja em polegadas - o nome de um calibre sempre vem acompanhado de uma espécie de “sobrenome”, que tem a função de diferenciá-lo de outro que possua o mesmo diâmetro. Tal sobrenome é, muitas vezes, o nome do inventor do calibre, ou da fábrica da arma para a qual ele foi primeiramente desenvolvido.
 Outro esclarecimento necessário é que o nome muitas vezes não indica o diâmetro preciso, o qual foi alterado ao longo dos anos (sempre na busca da melhora daquele calibre), tendo ficado o nome original, por razões históricas ou sentimentais. Um bom exemplo é o famoso e comuníssimo calibre .38 Special, que hoje apresenta um diâmetro de projétil de não mais do que 0,357 polegada, sendo mais comum ainda a medida de 0,355 polegada.
 Não existe um número preciso de calibres já inventados no mundo. São centenas, talvez chegando a mais de mil. Porém, pouco mais de cem são os mais usados pelo mundo afora. Isso sem contar as munições artesanais, inventadas por algum armeiro amador.
 Tratando de armas curtas, apresentamos a Tabela 1, que contém os calibres mais conhecidos no Brasil: 
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TABELA 1
CARTUCHOS/CALIBRES MAIS CONHECIDOS (armas curtas) Nome Arma Diâmetro Peso Velocidade Energia .22 LR R e P 0,222 40 346 155 .25 Auto ou 6,35mm P 0,251 45 247 90 .32 S&W R 0,315 98 213 144 7,65 mm ou .32 ACP P 0,315 71 276 175 .380 Auto ou 9mm K P 0,355 85 300 255 9mm Parabellum P 0,355 115 350 530 .38 Special ou SPL R 0.357 158 229 268 .357 Magnum R e P 0,357 158 372 710 .40 S&W P 0,400 180 300 524 .44-40 (Winchester) R 0,427 200 358 833 .44 Magnum R 0,430 180 490 1400 .45 Auto ou .45 ACP P e R 0,451 185 300 555 Colt .45 Cowboy R 0,452 225 280 570  Legenda: nome do calibre; tipo de arma que calça (Revólver ou Pistola); diâmetro em polegada; peso do projétil em grains (0,0648g); velocidade do projétil na boca do cano, em m/s; energia (na boca do cano) em joules.

 Quanto à medida do calibre da espingarda (arma com cano de alma lisa), como já comentado no Capítulo 1, é interessante apontar que, ao contrário das armas raiadas, quanto menor o número (indicativo do calibre), maior é o calibre da espingarda. Isso porque a medição é feita por um critério inventado pelos britânicos, que, superficialmente falando, é o número de esferas de chumbo cujo diâmetro equivale à boca do cano da arma, que totalizam uma libra-peso. No caso do calibre 12, por exemplo, a esfera de chumbo é tão grande que bastam 12 dessas esferas, para atingir uma libra. 
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CAPÍTULO 3
BALÍSTICA
3.1 - Balística Geral:
 Revisando conceitos, lembramos que o cartucho de munição é constituído de quatro elementos básicos: 1) estojo, que é o invólucro da munição; 2) o projétil, que é a parte que se desloca e atinge o alvo, popularmente conhecido como “bala”; 3) o propelente, que é o elemento propulsor (sendo a pólvora de nitrocelulose o mais comum), cuja queima e expansão produz o estampido típico e aciona o projétil, injetando energia cinética no mesmo; e 4) a espoleta, que é o elemento iniciador da queima do propelente, ao produzir uma chama sob percussão forte do percutor da arma.
O termo “balística” refere-se ao estudo do itinerário percorrido por um projétil de arma de fogo, desde a detonação da espoleta até a sua parada total, no alvo. O itinerário de uma “bala” (projétil) inclui: percurso dentro do cano, percurso no ar e percurso através do alvo.
3.1.1 - Balística Interna ou Balística Inicial analisa a quebra da inércia do projétil e seu movimento ao longo do cano. A coisa funciona assim: quando o atirador pressiona a tecla do gatilho, um mecanismo mais ou menos complexo obriga o cão (em inglês é chamado de “martelo”) a bater com força sobre o percutor (ou percussor, vulgarmente conhecido como “agulha”) que se move à frente, percutindo a espoleta do cartucho. Essa pressão do percutor detona a espoleta, que produz uma chama. Esta chama é projetada à frente, atravessando um pequeno furo chamado “evento” e iniciando a combustão do propelente, que fica alojado dentro do corpo do estojo.
O propelente, apesar de passar uma impressão de explosão, pelo enorme ruído produzido, sofre, na verdade, um processo de queima seqüencial controlada (isso se dá em fração de segundos). A queima controlada produz uma grande expansão de gases em altíssima temperatura, a qual gera grandes pressões dentro do estojo. O projétil, que fica engastado na boca do estojo, sob essa enorme pressão crescente, é forçado para frente, movendo-se (em velocidade muito alta e sob aceleração gerada pela expansão de gases) na direção da saída do cano da arma. Praticamente não há perda de pressão, pois a espessura do projétil (o calibre, propriamente dito) é o mesmo do cano, sem folga.
Durante o percurso dentro do cano da arma, a aceleração sofrida pelo projétil é sempre crescente, haja vista que o propelente está em processo contínuo de queima, produzindo, portanto, cada vez mais gases em expansão. Por esse motivo, até um determinado valor, quanto maior o comprimento do cano da arma, maior a aceleração sofrida pelo projétil e, conseqüentemente, maior a energia cinética que este absorve.
 Apenas a título de curiosidade, a fim de garantir a tal queima seqüencial do propelente (a pólvora, no nosso caso), os fabricantes criam pólvoras com as mais diversas características químicas e físicas. Não se usa, em cartuchos de arma de fogo, a pólvora em pó, a qual desfavorece a queima gradual. É comum
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encontrar-se, para esse fim, pólvora em roletes cilíndricos, em “pellets” semelhantes a lentilhas, em discos etc. A queima sempre ocorre de fora para dentro destas pequenas estruturas. E, tipicamente, o estojo não é preenchido com pólvora até a base do projétil, o que prejudicaria a queima, até pela limitação da quantidade de oxigênio naquele espaço.
Cabe destacar que aqui estamos tratando de arma de alma raiada (cano com raias) e não de alma lisa, sem prejuízo de que as características da balística, mutadis mutandis, são idênticas.
Uma vez que o projétil rompe a inércia e inicia seu movimento para frente, começa ele, ao mesmo tempo, a girar no sentido das raias. Esse giro causado pelas raias do cano é que dará estabilidade e precisão ao projétil, no itinerário conhecido como Balística Externa.
3.1.2 - Balística Externa é o estudo do movimento do projétil desde a saída total do cano da arma, até encontrar o alvo.
Devido à força da gravidade, o projétil tende a descrever, em seu itinerário, uma parábola descendente, a partir da saída do cano. Os atiradores costumam classificar os calibres, quanto ao itinerário do projétil, em trajetória tensa e trajetória curva. Os de trajetória tensa são aqueles com muita energia inicial. Seus projéteis tendem a manter uma reta por uma distância relativamente longa. Isso aumenta a precisão do tiro, apenas a princípio, pois, por outro lado, maior energia implica em maior recuo, o que tende a reduzir a precisão.
 Muitos fatores interferem na balística externa, sendo que os mais importantes são:
a) massa e densidade do projétil; b) densidade do ar atmosférico ao tempo e no lugar do tiro; c) valor da velocidade inicial do projétil; d) diâmetro da seção transversal do projétil, oposta à resistência do ar; e) forma do projétil; f) estabilidade do projétil em relação ao eixo da trajetória; g) giro do projétil, sendo que quanto mais rápido o giro, mais precisa e reta tende a ser a sua trajetória, com menor desvio e também com menor arrasto causado pela resistência do ar; o giro faz o projétil funcionar como um giroscópio, entre cujas propriedades está a de possuir alta resistência ao desvio lateral; h) desvio lateral: todo projétil tem tendência a desviar lateralmente, dada a resistência do ar; quanto menor o desvio, menor o arrasto e conseqüentemente menor será a perda de energia.
Em função de todos esses fatores, os desenhistas, ou melhor, criadores de calibres de munição, estão sempre em busca da munição ideal, criando novos formatos de projéteis, com maior ou menor diâmetro e maior ou menor quantidade de propelente no estojo. Há sempre um trade-off, onde, quando se ganha em aerodinâmica se perde em acúmulo de energia, quando se ganha em peso se perde em velocidade e assim sucessivamente. O criador de calibres trabalha com verdadeiras matrizes de fatores intervenientes na balística.
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A busca do calibre ideal para uso policial leva, normalmente, na direção do aumento da energia, que como veremos é um dos fatores primordiais no suposto “poder de parada” (do qual trataremos no Capítulo 4). Ocorre que aumento de energia, sem aumento do diâmetro do cano, significa, necessariamente, aumento da pressão interna dos gases.
O aumento da pressão interna está limitado pela resistência do aço que compõe a culatra, que é a parte posterior do cano, onde fica alojado o cartucho da munição. No momento da detonação, pela lei da ação e reação, a mesma força que empurra o projétil para frente também empurra o estojo para trás, contra a parede da culatra.
Um excesso de pressão pode chegar a deformar o cano ou, no exagero, romper a culatra, fazendo vazar gases para trás, na direção do atirador. Esse incidente teórico deu origem à famosa expressão popular “o tiro saiu pela culatra”.
Dessa forma, para aumentar a energia cinética, sem precisar aumentar muito a quantidade de propelente (com indesejável aumento de pressão interna), o que se faz é aumentar a massa do projétil. Mas, como vislumbrado acima, o aumento da massa do projétil exige maior tamanho de arma, a fim de compensar o aumento no recuo, o qual sempre prejudica o tiro.
Já quanto à melhor aerodinâmica, o projétil ideal deveria ser uma longa e pesada “agulha”, que levaria a reduzir o arrasto. Na verdade, os projéteis de munições dos fuzis atuais têm, geralmente, esse perfil, ou seja, são cones longos com ponta muito fina.
De toda a experiência da humanidade com armas de fogo, percebe-se que o material ideal para um projétil é o Chumbo (Pb), que além de pesado, é barato. O chumbo tem uma limitação, que é seu baixo ponto de fusão. Outra limitação importante para o uso do chumbo é a de caráter ecológico, pois o chumbo é altamente danoso para as pessoas e o meio-ambiente. Hoje os EUA estudam a proibição de cartuchos de caça contendo chumbo. Propõem que os projéteis de chumbo sejam substituídos por projéteis de aço ou tungstênio, o que elevará muito o preço das munições e diminuirá muito a vida útil dos canos das espingardas. 
Seja como for, devido à “moleza” do chumbo, para usá-lo, tendo em vista as altas temperaturas geradas no tiro, é necessário fazer uma liga com outro metal, de mais alto ponto de fusão. É comum o uso do Estanho (Sn), do Antimônio (Sb) e do Arsênio (As). Os projéteis encamisados, que também têm o núcleo em liga de chumbo, levam Cobre (Cu) na camisa (a rigor a camisa é feita de liga metálica, sendo as mais usadas o latão, que é cobre com zinco, o cobre com níquel, o cobre com zinco e níquel, o cobre com zinco e estanho e o aço, que é uma liga de ferro e carbono).
3.1.3 - Balística Terminal é o estudo do movimento do projétil a partir do ponto em que toca o alvo até a sua completa parada.
Ao tocar qualquer superfície, diferente do ar, o projétil tende a alterar completamente sua “atitude”, sofrendo interferências do meio e atuando sobre esse meio, até encerrar seu movimento, com a completa descarga da sua energia cinética.
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É preciso lembrar que o projétil, que é um objeto extremamente pequeno em relação ao corpo de uma pessoa adulta, chega ao alvo com uma velocidade muito alta, girando também em alta velocidade, como se fosse uma broca elétrica e portanto carregando grande quantidade de energia cinética. Ao encontrar qualquer resistência (mesmo a roupa da pessoa atingida) o projétil começa a perder estabilidade, inicia uma vibração crescente, desvia seu curso (esse desvio pode ocorrer diversas vezes, até a parada total) e começa a se deformar, em um processo chamado de expansão.
Quanto mais leve o projétil, maior a tendência a vibrar e a desviar o curso. Isso também implica em maior descarga de energia cinética no alvo.
Uma característica típica da balística terminal é o dano causado pelo projétil nos tecidos humanos, inclusive nos ossos, da pessoa atingida. À medida que o projétil penetra e se move, vai perfurando, rasgando, deformando tecidos e até quebrando ossos. Os danos causados pelos projéteis foram classificados em três grupos: 1) laceração e esmagamento; 2) cavitação (formação de cavidades); 3) ondas de choque.
O projétil destruirá, portanto, ou causará danos, temporários ou permanentes, em todos os tecidos por onde passar, deixando em seu caminho um orifício. Ao mesmo tempo, o projétil causa um esticamento e expansão dos tecidos no entorno de seu itinerário. Esses dois efeitos, ou seja, o furo e o esticamento dos tecidos são conhecidos como cavitação permanente e cavitação temporária, respectivamente.
O grau de cavitação, seja permanente, seja temporária, dependerá de vários fatores, como o tamanho, o formato e a velocidade do projétil. A cavitação será maior em função do maior diâmetro, da menor aerodinâmica de seu perfil e da maior velocidade do projétil. Há uma certeza científica de que na verdade o projétil “destrói” o tecido e não simplesmente o “corta”.
3.2 – Velocidade do Projétil:
 Em termos de velocidade, os projéteis são classificados em três grupos: de baixa, média e alta velocidade. É considerado de baixa velocidade um projétil que desenvolve menos de 304,8 m/s (1.000 pés/s), de média velocidade, entre 305 a 609,6 m/s (1.000 e 2.000 pés/s) e de alta o que se move acima de 609,6 m/s (2.000 pés/s). As medidas são indicadas em pés por segundo porque para armas e munições é tradicional o uso do sistema inglês de medidas.
 A distância do alvo é muito importante, já que a perda de EC (Energia Cinética) é muito grande no trajeto (balística externa), especialmente para calibre de baixa velocidade.
 Um fator interessante é que, de modo geral, basta que um projétil viaje a 50 m/s (163 pés/s) para penetrar a pele humana, enquanto que são suficientes meros 65 m/s (213 pés/s) para quebrar ossos, o que, para munição, são consideradas velocidades extremamente baixas. Isso faz concluir que não será propriamente a velocidade o fator mais decisivo para a produção de danos nos tecidos do alvo. Outros fatores deverão ser levados em conta, na própria concepção do desenho do projétil, visando à dissipação da energia cinética e a maior destruição de tecidos em seu caminho (balística final).
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 Como exemplo, temos o projétil “canto-vivo” (wadcutter, que é um projétil que praticamente não tem ponta, ou seja, tem a frente achatada), que pode ser considerado o projétil menos aerodinâmico de todos, conseqüentemente com grande capacidade de reagir ao contato com os tecidos. É mais adequado para armas (ou cargas de propelente) de menor velocidade, sendo comumente usado para prática de tiro ao alvo.
O projétil “semicanto-vivo” (semi-wadcutter, que é uma espécie de cone truncado, que termina com uma aba em canto vivo) é um intermediário entre o nariz ogival e o canto-vivo, sendo aplicável para munições de média velocidade.
O projétil de “ponta oca” (hollowpoint, que é uma ogiva com um furo na ponta, como o nome indica) tem a propriedade de “virar do avesso”, como o milho de pipoca, achatando rapidamente a frente, característica que é chamada de “expansão” (Fig. 26). Por isso mesmo os projéteis de “ponta oca” são também conhecidos com “expansivos”. Para a expansão ocorrer com certeza, o projétil deve atingir o alvo em velocidade acima de 365 m/s (1.200 pés/s). Por esse motivo esse desenho é recomendado apenas para munições com tal nível de velocidade, ou acima.
 

No trabalho policial a grande maioria das trocas de tiro ocorrem a menos de 7 metros, porém, ainda assim, a maior parte dos projéteis não atingem o alvo visado (um estudo feito nos EUA demonstra que apenas 11% dos tiros dos criminosos e 25% dos tiros dados por policiais atingem os alvos visados). Esse
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tipo de estudo é muito útil não apenas para o escopo do presente trabalho, mas também para afastar o mito do “bom atirador”, ou do “exímio policial”, que acerta onde quer. Trata-se nada mais que de um mito.
 De acordo com a NYPD SOP-9 (Diretiva da Polícia de Nova Iorque, identificada como Procedimento Padrão Operacional nº 9), no ano de 2000, somente 9% dos tiros disparados por policiais envolvidos em tiroteios atingiram os agressores. Mesmo quando se incluem nas estatísticas os tiros derivados de agressões sem arma de fogo, o nível de acerto não passou de 15,8%. Naquele ano houve, em Nova Iorque, um total de 129 incidentes envolvendo disparos de tiros (incluindo reação a agressões sem tiros, como ataques de cães violentos, criminosos desarmados ou em fuga, briga de rua etc.).
 Esses temas serão mais aprofundados no ponto que trata do poder de parada, mas vale a preliminar. Estudos comprovam que a energia transmitida por um projétil de arma curta, e mesmo de armas longas, ao corpo de uma pessoa de cerca de 80Kg é praticamente desprezível, em termos de impacto. O que se observa de fato é que as vítimas de tiro relatam que no momento do impacto nada sentiram. Os comentários acima visam a preparar o terreno para o tratamento do poder de parada e da escolha do calibre ideal.
3.3 - Tiro de Espingarda
 Como apresentado no Capítulo 1, a espingarda é uma arma que possui o cano de alma lisa, sendo muito utilizada na caça. A espingarda calibre 12, de repetição é bastante útil no trabalho policial.
A espingarda pode possuir um estrangulamento na boca do cano, conhecido como choke. Maior estrangulamento do cano (choke) induz a menor dispersão dos bagos de chumbo. Para uma espingarda no calibre 12, com cartucho de bagos de chumbo (3T, por exemplo), o chamado Full Choke (estrangulamento total) determina, aproximadamente, uma dispersão de 70 centímetros a 20 metros. Já o cano sem estrangulamento ocasiona uma dispersão de cerca de 1,10m à mesma distância

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APRESENTAÇÃO

 Temos a imensa satisfação de entregar aos servidores da Secretaria da Receita Federal do Brasil, membros da sua Carreira Auditoria - AuditoresFiscais e Analistas Tributários -, este pioneiro Curso de Manuseio e Utilização de Armas de Fogo.
Os autores deste manual, um mais antigo do que o outro na Casa, perceberam, desde o início de suas respectivas atividades funcionais, ambos na área aduaneira, mais especificamente exercendo atividades de repressão aduaneira, um hiato inexplicável entre o disposto na lei específica, qual seja o porte funcional de arma de fogo desses servidores, e a inexistência de um treinamento em manuseio e utilização de armas, formal, obrigatório e inerente à formação dos membros da Carreira. Essa é uma lacuna que precisa ser preenchida.
A oferta deste Curso é a primeira tentativa na direção de fazer com que a RFB tenha sua própria estrutura de preparo técnico dos Auditores e Analistas no manuseio e utilização de armas de fogo. Isso, sem prejuízo da realização de convênios com órgãos diversos de Segurança Pública, com o escopo de, num segundo momento, aprimorar as técnicas conhecidas e aprender técnicas especializadas, no uso de armas de fogo.
Não obstante tratar-se, em última análise, de matéria extremamente técnica e algumas vezes árida, procuramos, no afã de apresentar um Curso agradável, usar de dois artifícios: por um lado, apresentar um panorama histórico do desenvolvimento das armas, acompanhado de conceitos básicos diversos e de uma classificação das armas e, por outro, fazer uso, o tempo todo, do jargão vulgar, a fim de facilitar o entendimento da terminologia técnica. Coroando tudo isso, ilustramos com fotografias todos os Capítulos, de maneira a permitir a visualização daquilo que se fala no texto.
Conforme se vai verificar no texto, este não é um “Curso de Tiro”. Os autores não tinham a intenção de preparar um “Curso de Tiro” por entenderem que quem nunca teve conhecimento técnico para manusear arma de fogo não carece de aprender a “atirar”, porém sim necessita aprender a manusear armas de fogo e munições com segurança, para si mesmo e para terceiros à sua volta. Antes de aprender a atirar, qualquer pessoa que vai pôr as mãos em uma arma de fogo necessita saber manusear a arma. A segurança vem em primeiro lugar.
Na questão da segurança no manuseio de arma, procuramos destacar exaustivamente as normas de manuseio seguro e mesmo as normas de procedimentos aplicáveis em estandes de tiro, durante os treinamentos com tiro real.
Nos Capítulos que tratam da utilização efetiva da arma, ou seja, do saque e do disparo, diferentemente dos manuais que temos encontrado, fizemos um esforço para, didática e minuciosamente, mostrarmos todos os detalhes envolvidos nos movimentos a serem implementados pelo atirador, com o objetivo de realizar um bom disparo, isto é, um disparo com boa qualidade técnica. 


CURRÍCULO DOS AUTORES

ANTÔNIO BENÍCIO DE CASTRO CABRAL. Auditor-Fiscal da Receita Federal do Brasil desde janeiro de 1986, entrou na Carreira por meio do Concurso de CAF de 1984. Lotado na Delegacia de Campo Grande-MS, foi imediatamente designado para a área aduaneira, indo trabalhar, principalmente, nas Inspetorias de Mundo Novo, Bela Vista e Porto Murtinho, todas na fronteira com o Paraguai. Logo se interessou pela área de repressão aos ilícitos aduaneiros e participou de diversos treinamentos especializados nessa área, tornando-se, em seguida instrutor de técnicas aduaneiras e de combate ao tráfico internacional de drogas. Participou de dezenas de operações de repressão aos ilícitos aduaneiros, em fronteiras, em barreiras de estradas, em aeroportos e em portos. Depois de trabalhar em diversas Unidades da Receita Federal, inclusive em duas Coordenações-Gerais, está lotado atualmente na Divisão de Repressão ao Contrabando e ao Descaminho – DIREP, da Superintendência da 6ª Região Fiscal, em Belo Horizonte-MG. É Bacharel em Economia, formado pela Universidade de Brasília em 1981, tendo cursado o Mestrado em Economia na Universidade de Campinas, entre os anos 1982 e 1983. É Bacharel em Direito, formado pela Universidade Federal de Minas Gerais em 2001. Na área de armas de fogo realizou seu primeiro treinamento em julho de 1989, na Academia Nacional de Polícia, do Departamento de Polícia Federal. É atirador de Tiro Prático, membro da Confederação Brasileira de Tiro Prático, desde 1991. Curioso na matéria, tem lido diversos artigos e publicações e pesquisado sobre o tema, ao longo dos anos. Considera-se um leigo com algum embasamento técnico.

BENEDITO PEREIRA DA SILVA JUNIOR. Auditor-Fiscal da Receita Federal do Brasil desde Julho de 1999, entrou na Carreira por meio do Concurso de TTN (atual ATRFB) de 1992. No início de sua carreira como Auditor-Fiscal trabalhou na Inspetoria de Guajará-Mirim – RO, na fronteira com a Bolívia. Desde o início demonstrando interesse pela atividade de repressão aos ilícitos aduaneiros, já participou de diversas operações nos mais diferentes locais do Território Brasileiro. Atualmente exerce a função de Delegado-Adjunto da Receita Federal na cidade de Piracicaba/SP. É Bacharel em Ciências Contábeis, diplomado no ano de 1996, cursando atualmente Pós-graduação em Direito Processual Tributário pela Universidade de Brasília, na modalidade “Lato Sensu”. Na área de armas de fogo realizou seu primeiro treinamento no ano de 1987, como aluno da Escola Preparatória de Cadetes do Ar - EPCAr, unidade de ensino do Comando da Aeronáutica, situada em Barbacena/MG. Concluiu também, com aproveitamento, os seguintes cursos operacionais:

Curso de Tiro Defesa, pela Amadeo Rossi S.A. Metalúrgica e Munições (1999). Estágio de Tiro Defensivo na Preservação da Vida – Método Giraldi, pela Polícia Militar do Estado de São Paulo (2005). 

CURSO DE MANUSEIO E UTILIZAÇÃO DE ARMAS DE FOGO

SUMÁRIO

CAPÍTULO 1 O QUE É A ARMA DE FOGO
1.1 – Conceito   . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1
1.2 – Classificação    . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3
1.2.1 - Arma de Uso Militar X Arma de Uso Policial    . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3
1.2.2 - Arma Curta X Arma Longa    . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4
1.2.3 - Alma Lisa X Alma Raiada    . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4
1.2.4 - Antecarga X Retrocarga    . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5 
1.2.5 - Fuzil, Rifle e Carabina X Espingarda    . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
1.2.6 - Revólver X Pistola (a Garrucha)     . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
1.2.7 – Metralhadora X Submetralhadora    . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
1.2.8 – Monotiro X Repetição     . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
1.2.9 – Repetição X Automática (Semi-Automática)     . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
1.2.10 - Tipos de Ação: Ferrolho, Alavanca, Bomba    . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
CAPÍTULO 2 MUNIÇÃO
2.1 – Conceito e Estrutura    . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
2.2 – Calibres    . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
CAPÍTULO 3 BALÍSTICA
3.1 – Balística Geral    . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
3.1.1 – Balística Interna ou Inicial    . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
3.1.2 – Balística Externa    . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
 vi

3.1.3 – Balística Terminal    . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
3.2 – Velocidade do Projétil    . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
3.3 – Tiro de Espingarda    . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
3.4 – Tiro de Arma de Pressão    . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
CAPÍTULO 4
O PODER DE PARADA
4.1 – Conceito de Poder de Parada   . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
4.2 – A Incapacitação Imediata (Mito ou Verdade?)    . . . . . . . . . . . . . . . . 37
4.3 – A Importância da Penetração e da Destruição de Tecidos   . . . . . . . 39 
4.4 – Casos Reais    . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42
4.5 – Buscando a Superação do Mito    . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42
4.6 – Discussão Ética e Armas não-Letais     . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43
CAPÍTULO 5
CUIDADOS NO MANUSEIO
5.1 – Conceitos Básicos    . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46
5.2 – Direção Segura    . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47
5.3 – Dedo Fora da Tecla do Gatilho    . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
5.4 – Manuseio Geral da Arma     . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
5.5 – Regras de Segurança para Manuseio e Utilização de Arma de Fogo 50
5.6 – O Poder Dissuasório da Arma de Fogo     . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52
CAPÍTULO 6
MUNICIAMENTO
6.1 – Principais Partes Externas das Armas Curtas     . . . . . . . . . . . . . . . 54
6.2 – Revólver    . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56
6.3 – Pistola     . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57
6.3.1 – Preparando os Carregadores     . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57
6.3.2 – Alimentando e Carregando a Pistola     . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58
CAPÍTULO 7
ENQUADRAMENTO DE MIRAS
7.1 – Definição    . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62 
7.2 – Massa e Alça de Mira   . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62 
7.2.1 – Massa de Mira    . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62
7.2.2 – Alça de Mira     . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63
 vii

7.3 – Olho Diretor    . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63
7.4 – Como fazer o Enquadramento de Miras     . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64
CAPÍTULO 8
EMPUNHADURA
8.1 – Definição    . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67
8.2 - Mão Forte, Mão Fraca e Duas Mãos    . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67
8.3 – Princípios da Empunhadura    . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67
8.4 – Empunhadura Antiga e Tradicional     . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70
8.4.1 – Empunhadura Antiga    . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70
8.4.2 – Posição de Tiro Tradicional     . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72
8.5 – Posição do Isósceles     . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73
8.6 – Posição Weaver     . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75
8.7 – Posição Weaver Modificada     . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 76
8.8 – Posição Ajoelhado     . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77
8.9 – Posição Deitado     . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78
8.9.1 – Em Decúbito Ventral     . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78
8.9.2 – Em Decúbito Ventral Adernado    . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78
CAPÍTULO 9
SAQUE RÁPIDO
9.1 – O Uso de Coldres     . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 80
9.2 – A Técnica do Saque Rápido     . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83
9.3 – Arma sobressalente (Backup Gun)     . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 86
CAPÍTULO 10
DISPARANDO
10.1 – Postura e Procedimentos no Estande de Tiro    . . . . . . . . . . . . . . . . 88
10.1.1 - Proteção Auricular e dos Olhos     . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 88
10.1.2 – Algumas Regras Básicas de Procedimento     . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90
10.1.3 – Regras Gerais de Conduta na Linha de Tiro    . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91
10.2 – Tiro em Ação Simples e em Ação Dupla    . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 93
10.3 – Controlando o Recuo    . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 95
10.3.1 – Conceito de Recuo    . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 95
10.3.2 – Recuo Objetivo e Recuo Subjetivo    . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 95
10.3.3 – Controlando o Recuo     . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 96
10.4 – A Gatilhada     . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 97
 viii

10.4.1 – Gatilhada Faroeste    . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 97
10.4.2 – Gatilhada Propriamente Dita      . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 98
10.5 – Da Precisão dos Tiros    . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 99
BIBLIOGRAFIA     . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 101
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CAPÍTULO 1
O QUE É ARMA DE FOGO
1.1 - Conceito
Arma:  De acordo com o Dicionário Aurélio, ARMA “é um instrumento de ataque ou de defesa” [do latim tardio: arma, æ]. A Enciclopédia virtual Wikipedia define o verbete ARMA como “um objecto utilizado para causar dano físico. Na prática, qualquer objecto pode ser utilizado como arma. Desde uma simples pedra, até ao mais complexo míssil. No entanto, são vulgarmente considerados armas os utensílios criados com o objectivo específico de destruir, intimidar ou matar”. Para Eraldo Rabello (in Balística Forense), ARMA é “todo objeto concebido e executado com a finalidade específica ou predominante de ser utilizado pelo homem para o ataque ou para a defesa”. De acordo com o especificado no R-105 (Regulamento para a Fiscalização de Produtos Controlados), aprovado pelo Decreto nº 3.665, de 20/11/2000, que dá competência ao Exército Brasileiro para estabelecer as normas necessárias para a correta fiscalização das atividades exercidas por pessoas físicas e jurídicas, que envolvam produtos controlados pelo Exército, ou seja, armas, munições e assemelhados, ARMA é “um artefato que tem por objetivo causar dano, permanente ou não, a seres vivos e coisas” (art. 3º, inciso IX).
Portanto, o que se conclui é que – afastando qualquer metáfora – a arma é um instrumento, seja ele natural (ainda que adaptado) ou produzido pelo homem. Esse instrumento tem sempre o fim de causar dano físico ou ferimento, seja com a intenção de agredir, seja derivado da necessidade de defesa contra uma agressão.
Pode-se afirmar que a arma é coetânea com a existência do homem, tendo sido utilizada muito antes do aparecimento do homo sapiens. Essa assertiva pode ser ilustrada pela cena inicial do famoso filme “2001: Uma Odisséia no Espaço”, do Diretor Stanley Kubrick, onde um antepassado do homem lança mão de um osso e começa a bater com ele em seus inimigos (Fig. 1).


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Também fica expresso que a arma tem sempre função beligerante ou contenciosa, sem prejuízo de existirem as chamadas “armas de defesa”. Para o interesse do presente estudo, abstraímos a idéia de arma de caça, atividade esta que não deixa de ser uma forma de peleja.
Arma de Fogo:  O Dicionário Aurélio preleciona que ARMA DE FOGO é “toda aquela que funciona mediante a deflagração de uma carga explosiva que dá lugar à formação de gases, sob cuja ação é lançado no ar um projétil”. Segundo a definição da Wikipedia, ARMA DE FOGO “é um artefato utilizado para propulsão de projéteis sólidos por meio de uma rápida expansão de gases obtidos pela queima controlada de um propelente, geralmente sólido que na maioria dos casos é a pólvora, contido em uma câmara fechada por todos os lados exceto por aquele que conduz o projétil através de um orifício cilíndrico denominado cano ou tubo”. De acordo com Eraldo Rabello, conceituamos ARMA DE FOGO como sendo “exclusivamente aqueles engenhos mecânicos dotados da propriedade de expelir projéteis, nos quais é utilizada, para a projeção destes, a força expansiva dos gases resultantes da combustão da pólvora”. ARMA DE FOGO é um “dispositivo que impele um ou vários projéteis através de um cano pela pressão de gases em expansão produzidos por uma carga propelente em combustão” (definição retirada da Cartilha de Armamento e Tiro, da ANP/DPF). Para o R-105, ARMA DE FOGO é “arma que arremessa projéteis empregando a força expansiva dos gases gerados pela combustão de um propelente confinado em uma câmara que, normalmente, está solidária a um cano que tem a função de propiciar continuidade à combustão do propelente, além de direção e estabilidade ao projétil” (art. 3º, inciso XIII). Concluímos que a arma de fogo é um instrumento de combate que dispara um projétil, o qual é propelido por gases em expansão, gerados pela queima rápida de determinado material adustível. O ferimento intencionado será causado não pelo instrumento, isto é, a arma, porém sim pelo projétil, que viajará pelo ar, até atingir o alvo a determinada distância, maior ou menor.

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1.2 – Classificação
 As armas de fogo podem ser classificadas segundo diversos critérios. Esses critérios serão determinados pelo interesse específico do estudioso. Para o escopo do presente trabalho, apresentaremos algumas classificações básicas, geralmente separando as armas em dois grupos opostos, para cada critério selecionado. 1.2.1 – Arma de Uso Militar X Arma de Uso Policial
 Sobre esse critério, o primeiro comentário a se fazer é que, se voltarmos na história, veremos que essa separação não era possível de ser feita. Há algum tempo, talvez mesmo ainda na primeira metade do Século XX, não havia essa separação. Ou seja, as armas de uso policial eram também armas de uso militar (situação essa ainda não totalmente afastada).
O que se pode observar, pelos estudos históricos, é que no passado toda arma foi feita para a guerra (vulgarmente, as armas militares são conhecidas como armas de guerra), sendo que algumas passaram a ser destinadas ao uso policial (na medida em que essa função pública começou a adquirir contornos próprios, específicos, distintos da função militar). Daí que nem todas as armas militares serviam para uso policial, porém a recíproca não é verdadeira (em países mais desenvolvidos existe a separação clara, em muitos casos).
As armas militares são aquelas destinadas ao emprego em situação de guerra, sendo que as armas de artilharia, seja terrestre, seja aérea ou naval, sejam estas fixas, sejam móveis, só podem ter uso militar. Não se vislumbra a possibilidade de uso de um canhão, no trabalho policial (Fig. 2).

 

Fig. 2 – Obuseiro M114 AR de 155mm do Exército Brasileiro

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Veículos militares, de guerra, terrestres, aéreos ou navais, também não são aplicáveis no trabalho policial, exceto os blindados de transporte de pessoal.
A chamada zona cinzenta começa a aparecer nas armas da infantaria. Destas, algumas são exclusivamente de uso militar, enquanto que outras são também de uso policial. Não é possível, por exemplo, usar um lança-rojão (popularmente conhecido como bazuca), ou um morteiro, no trabalho policial, e nem uma metralhadora pesada (sobre esta arma, vale adiantar que a função policial admite o uso de “submetralhadora”, também chamada “metralhadora de mão”). É bom que se aponte uma exceção ao uso de metralhadora no trabalho policial, que é o caso das metralhadoras em calibre 7,62 mm Browning e .30, que são utilizadas a bordo de helicóptero ou lancha de uso policial, montadas sobre um reparo (que é um tipo de pedestal apropriado, giratório).
Assim, o que se observa é que quase toda arma de fogo pode ser considerada arma militar, porém, somente são de uso policial as armas curtas e algumas armas longas, como carabinas, determinados fuzis, espingardas e submetralhadoras. Em uma palavra, pode-se afirmar que as armas de uso policial são as “portáteis”, porém nem todas elas.
Atualmente, desde o pós-2ª Guerra Mundial, as fábricas de armas vêm trabalhando com o conceito de armas e calibres de uso policial. Muitas armas, especialmente armas curtas (revólveres e pistolas) vêm sendo criadas e desenvolvidas exclusivamente para uso policial. O desenvolvimento do calibre .40 S&W é um exemplo típico dessa tendência. 1.2.2 - Arma Curta X Arma Longa
 Arma Curta: É também chamada arma de mão, já que é aquela desenvolvida para ser manejada normalmente por uma única mão. Tanto a sua estrutura (o chassi ou frame) quanto o seu cano são bastante menores do que os da arma longa. Os canos das armas curtas mais conhecidas variam de 5cm (2 polegadas) a até incríveis 30cm (12 polegadas). São exemplos típicos de arma curta o revólver e a pistola.
 Arma Longa: É a arma portátil feita para ser manejada com as duas mãos, geralmente apoiada no ombro do atirador. Tanto sua estrutura quanto seu cano são bem maiores do que os das armas curtas. Os canos das armas longas mais conhecidas vão desde algo em torno de 30cm (12 polegadas) até algo em torno de 80cm (mais de 30 polegadas), para fuzis mais antigos. São exemplos de armas longas as espingardas, os fuzis, as carabinas e até mesmo as submetralhadoras (estas são praticamente uma categoria à parte). 1.2.3 - Alma Lisa X Alma Raiada
 A alma é o interior do cano da arma de fogo, que vai desde o final da câmara até a boca do cano, estando destinada a orientar a direção do projétil e resistir às altas pressões geradas pela combustão da pólvora (a Cartilha de Armamento e Tiro da ANP afirma que a alma vai desde a culatra, informação essa da qual discordamos).
 Alma Raiada: é quando o interior do cano possui “raias”, que são sulcos helicoidais, paralelos, que vão desde o fim da câmara até a boca do cano e têm como função forçar o movimento giratório no projétil, de forma a garantir sua
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maior velocidade no ar, maior estabilidade e, conseqüentemente, maior precisão do tiro. Existem vários tipos e quantidades de raia, podendo ir da esquerda para a direita ou vice-versa, de acordo com o gosto do projetista da arma.
 Alma Lisa: é quando o interior do cano não possui raias, ou seja, é isento de raiamento, tendo a sua superfície totalmente polida. As espingardas são típicas armas de alma lisa. 1.2.4 – Antecarga X Retrocarga
Antecarga: é a arma de carregar pela boca. Desde a mui vetusta culevrina (simples cano com culatra, com um evento para colocação de um pavio, que era disparado sob o braço), passando pelo arcabuz (Fig. 3) e o bacamarte e depois pelo mosquete, até chegar aos primeiros fuzis, todas as armas de fogo eram de antecarga.
Esse tipo de arma possui várias desvantagens em relação à arma de retrocarga. A operação de recarga pela boca é extremamente complexa e muito demorada, quando comparada com a retrocarga. Para executá-la o atirador precisava, pelo menos, de uma vareta de recarga, uma quantidade de pólvora com um dosador, projéteis, material para bucha e espoleta. Todo esse material, seguindo uma determinada ordem, era socado com a vareta na culatra do cano.
Além da dificuldade da recarga, o cano se sujava muito, acumulando resíduos, sendo bem mais difícil a sua limpeza. A precisão do tiro era bem menor, quando era usado o balote, pois o mesmo devia ter uma pequena folga, sob pena de não ser possível enfiá-lo cano abaixo. Por esse mesmo motivo, era inviável o raiamento do cano.
Esse tipo de arma não tem uso policial e nem militar. Hoje é utilizada apenas por colecionadores e caçadores, mais por prazer do que por outro motivo. 

 Retrocarga: é a arma que é remuniciada pela culatra, ou seja, é alimentada “por trás”. Apesar de que tentativas de se criar esse tipo de arma tenham sido feitas ao longo dos séculos, somente em meados do século XIX é que isso se tornou uma realidade. E só foi possível com o advento do cartucho, feito normalmente de latão (ou outros materiais, inclusive papelão), o qual tem resistência suficiente para resistir à pressão dos gases, quando devidamente alojado na culatra, além de possuir facilidade de dilatação, encaixando-se completamente na câmara, logo após a detonação da espoleta.
Antes da invenção do cartucho, as tentativas de criar uma arma de retrocarga sempre resultavam em acidentes graves para o atirador, pois nunca
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foi possível fechar completamente a culatra, de forma a resistir à rápida expansão dos gases.
O cartucho, além de resolver esse problema do fechamento seguro da culatra, ainda acabou possibilitando a invenção de armas de repetição (inclusive automáticas). O carregador (vulgarmente chamado pente), que é peça essencial das armas de repetição, só faz sentido com cartuchos.
O chamado cartucho a bala (cartucho de um projétil, usado em armas de cano raiado) também possibilitou a utilização, com plena eficácia, do raiamento. Isso se explica pelo fato de que o cartucho entra na câmara com relativa folga, enquanto que o projétil, ao contrário, após o disparo, irá passar pelo cano totalmente espremido contra as raias. Isso porque a câmara tem diâmetro ligeiramente maior do que o do cano. Este último é que determina o calibre.
Hoje pode-se dizer que todas as armas são de retrocarga. Em outras palavras, se a arma é municiada com cartuchos, então ela é de retrocarga. 1.2.5 – Fuzil, Rifle e Carabina X Espingarda
 O primeiro grupo refere-se às armas de alma raiada, enquanto que o segundo grupo, das espingardas, refere-se às armas de alma lisa.
 Fuzil: é a arma longa de alma raiada, por excelência. É, portanto, uma arma portátil, de cano bem longo (em geral com mais de 50cm ou 20 polegadas), manejada com as duas mãos e que deve ser disparada apoiada no ombro do atirador. É arma feita para dar múltiplos tiros, podendo ser encontrados fuzis de ação por repetição, semi-automático e/ou automático. Já existiu, no passado, fuzil de antecarga e um só tiro.
 O fuzil, sendo uma arma militar, é a arma típica do soldado de infantaria (Fig. 4). Utiliza munição de calibre mais poderoso (com projétil mais pesado e com muito maior carga de pólvora, o que lhe dá energia bastante superior) do que os utilizados em carabinas, submetralhadoras e em armas curtas. O fuzil geralmente possui uma bandoleira para transporte e pode ser equipado com uma baioneta, para combates corpo-a-corpo.
 O nome fuzil (derivado do francês fusil) é, na verdade, uma sinédoque, já que originalmente designava apenas uma peça da arma, que era nada mais que um mosquete melhorado. O fuzil, propriamente dito, era uma pequena peça de metal destinada a produzir faíscas pelo atrito de uma pedra de sílex (pederneira), de forma a incendiar o pavio (ou o rastilho de pólvora) e disparar o tiro.
 Os antepassados do fuzil são, mais remotamente, a culevrina, depois o arcabuz e em seguida o mosquete. Este último já possuía determinadas características do fuzil, inclusive a peça (fuzil) para atritar a pederneira. Supõese que o nome fuzil tenha sido definitivamente adotado depois da invenção da baioneta, a qual, efetivamente deu uma característica particular a essa arma. Com a inserção da baioneta, o fuzil passa a ser a arma polivalente típica das tropas regulares.
 Com a evolução dos armamentos, já não é possível definir com precisão um fuzil, o qual muitas vezes se confunde com uma carabina, dependendo, a
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denominação, do próprio fabricante. O próprio conceito de fuzil de assalto (ou fuzil tático) altera muito as características tradicionais de um fuzil.
 O fuzil de assalto (Fig. 5) é um muito compacto, de cano bastante reduzido, leve, que funciona em regime de fogo semi-automático e automático, com calibre mais reduzido e que pode incorporar determinados artefatos, como lança-granadas, mira ótica, apontador laser etc.
 Não obstante ser o fuzil uma arma militar, é bastante útil e muito apreciado no trabalho policial, tendo diversas funções, entre as quais se destacam a segurança das equipes, as ações táticas (desenvolvidas pelos grupamentos de elite, como SWAT e SRT) e os atiradores de elite (sniper). 

Fig. 5 – Fuzil de Assalto IMBEL M964 7,62mm.

 Rifle: O rifle é o mesmo que fuzil. Trata-se de um anglicismo, já que, em inglês, “fuzil” é “rifle” (pronunciado “raifou”, que deriva do raiamento do cano). A entrada dessa designação no português do Brasil deve-se aos filmes de “faroeste” dos anos 1960 e 1970. No vernáculo é errado falar “rifle”.
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 Carabina: a carabina é um fuzil reduzido, de cano menor, e que, geralmente utiliza munição também menor, muitas vezes equivalente à munição das armas curtas.
Atualmente, com a evolução dos conceitos militares e mesmo policiais de operações especiais, a contínua compactação dos fuzis e o desenvolvimento dos fuzis de assalto, tem se tornado difícil a distinção entre uma carabina e um fuzil. Em geral quem determina isso é o próprio fabricante.
O que mais ocorre é que quando há duas armas idênticas, porém calçando calibres diferentes, a de calibre maior é o fuzil e a de calibre menor é a carabina. Ou, por outra, a mesma arma é lançada em duas versões de cano, sendo o mais longo o fuzil e o mais curto a carabina. Outra possibilidade, porém pouco significativa, é o fuzil possuir regime automático de fogo, enquanto que a carabina só funciona em semi-automático.
A carabina, tradicionalmente, é uma arma de uso policial. Por se tratar de uma arma mais compacta que o fuzil e mais leve, torna-se muito prática para uso policial, especialmente para o que se chama de combate urbano (invasões de favelas, cumprimento de mandados de busca, invasão de cativeiros etc.).
Espingarda: A espingarda é a arma longa de cano de alma lisa. Uma característica típica da espingarda é que ela não atira com o que se chama de cartucho a bala, mas sim com bagos de chumbo (existe também o balote, do qual falaremos posteriormente). Também a medição de seu calibre difere totalmente daquela das de alma raiada, cujo calibre é dado pelo diâmetro do cano.
Assim como o fuzil, a espingarda também pode ser de antecarga e de retrocarga, de um tiro ou de múltiplos tiros. Pode ter um só cano ou mais de um. Pode ser de repetição e semi-automática. Hoje já existem, em forma experimental, espingardas em regime de fogo automático.
Não obstante ser uma arma mais adequada para caça e para tiro esportivo (tiro ao prato, por exemplo), é também muito utilizada como arma militar e policial, neste caso, a espingarda de calibre 12.
 No jargão policial e no uso vulgar, a espingarda calibre 12 é chamada de escopeta, principalmente aquela de cano curto (chamada “de cano serrado”). Ocorre que isso é um hispanismo, pois escopeta, em espanhol, é o mesmo que espingarda, em português. No vernáculo não é correto dizer “escopeta”.
 A espingarda calibre 12, de repetição (Fig. 6), é muito adequada para uso policial, pois em caso de disparos, o risco de danos a terceiros não envolvidos na contenda é muito menor do que no de tiro de carabina ou de fuzil, como se verá no capítulo que trata da balística. Ademais a espingarda praticamente dispensa a visada, para a execução do disparo, devido à dispersão dos bagos de chumbo.
 Sobre a medida do calibre, é interessante comentar que, ao contrário das armas raiadas, quanto menor o número, maior é o calibre da espingarda. Isso porque a medida é feita por um critério inventado pelos britânicos, que, superficialmente falando, é o número de esferas de chumbo cujo diâmetro
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equivale à boca do cano da arma, que totalizam uma libra-peso. No caso do calibre 12, por exemplo, bastam 12 dessas esferas, para atingir uma libra. 

1.2.6 - Revólver X Pistola (a Garrucha)
 Trata-se de armas curtas, porém cada qual com seu mecanismo diferenciado e específico. Antes de detalhar cada uma delas, cabe destacar que, ainda no século XIX o nome “pistola” era genérico e tinha o significado de “arma curta”. Esse nome veio do francês “pistolet”, que segundo o Dicionário Aurélio teve origem no tcheco “pistal”.
 As primeiras pistolas já aparecem no século XV, sendo de antecarga, de um só tiro e pouco confiáveis, em termos de funcionamento. Pelo seu pequeno tamanho elas podiam ser portadas na cintura. Em geral sua coronha (empunhadura) possuía uma terminação em metal pesado, para servir de cassetete, depois do único tiro.
Em meados do século XIX aparece o revólver, uma invenção patenteada pelo famoso armeiro Samuel Colt, fundador da Colt Manufacturing Company. Como o nome “revólver” designava um tipo de mecanismo específico, as demais armas continuaram a se chamar “pistola”, sendo que, com a invenção da pistola por ação semi-automática (inventores mais ou menos contemporâneos: Teodor Bergamann, Georg Luger, Hugo Borchardt e John Moses Browning), esta passou a ter primazia sobre o nome. Hoje, no Brasil e em muitos países, o nome pistola refere-se exclusivamente à arma curta semiautomática, que funciona com carregador de munições (popularmente conhecido como “pente”) destacável.
É interessante também apontar que nos Estados Unidos o nome “pistol” ainda se refere, genericamente, a arma curta. Portanto, naquele país “pistol” tanto pode ser revólver quanto pistola. Esta última tem lá o nome de automatic,
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em oposição ao revolver. Esse fato, mal interpretado pelos brasileiros falantes da língua inglesa proporciona, entre outros equívocos, a tradução de filmes onde a personagem chama um revólver de pistola.
Revólver: arma curta de repetição, com cano único, de alma raiada, que se destaca por possuir um cilindro (tambor) giratório, composto de diversas câmaras, nas quais são alojados os cartuchos de munição. O nome vem do inglês “revolver”, que significa “girar”, “dar voltas sobre um eixo”, “revolver”, devido ao seu tambor, que gira uma pequena fração a cada tiro (Fig. 7). Pela definição de Eraldo Rabello, “revólver é uma arma de fogo curta cuja carga é colocada nas câmaras de um tambor giratório, situado imediatamente atrás do cano, de sorte a possibilitar a apresentação mecânica de cada câmara ao cano, sucessivamente, ao ser acionado o mecanismo de disparo pelo atirador”. Segundo a Wikipedia, o revólver “difere-se das demais pistolas [o correto é “arma curta”] pela presença de um tambor, que executa um arco de revolução a cada disparo, durante a fase de alimentação, de onde provém seu nome”. Conforme o excelente comentário de Eraldo Rabello, “o revólver é, entre todas as armas de retrocarga, a única cujas culatras (salvo no caso especial dos revólveres chamados herméticos) não apresentam dispositivo algum de fechamento, pois as câmaras são abertas em ambas as extremidades, servindo de culatra, para cada uma, a própria base do cartucho nela colocado”. O mecanismo de repetição do revólver funciona, sucintamente, da seguinte forma: Ao premir (popularmente se diz puxar) a tecla do gatilho, ao mesmo tempo em que o cão é levado para trás (armado ou engatilhado), uma pequena alavanca empurra o tambor, geralmente no sentido anti-horário, e alinha uma câmara com o cano, deixando o cartucho, ali contido, em condições de disparo. Continuando o curso da tecla do gatilho, o cão acaba por soltar-se da sua armadilha e percute - impulsionado por uma forte mola, chamada mola real - a espoleta do cartucho que está parado e perfeitamente alinhado como o cano. Resulta no disparo, com o retorno da tecla para a posição original, forçada pela sua mola. Note que todo o mecanismo funciona a partir da força aplicada pelo dedo do atirador, que é capaz de romper a inércia da mola real e empurrar o cão para trás.
O revólver é a arma de porte mais popular que existe, superando em muito a quantidade de pistolas existentes. Isso se deve a dois principais fatores: um é eficácia de seu mecanismo, altamente confiável, e o outro é o seu preço de mercado, bem mais módico do que o das pistolas.
Também contribui para a sua preferência mitos retrógrados e malajambrados como o dito do meio policial que afirma que, enquanto a pistola não é confiável, o revólver nunca falha. Na verdade essa assertiva depõe contra os próprios policiais, pois tanto o revólver quanto a pistola necessitam manutenção constante e cuidadosa, porém por se tratar de mecanismo mais sofisticado, está a pistola mais vulnerável à carência de manutenção, do que o revólver.
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O que se nota cada vez mais é que, por sua superioridade tática e melhor portabilidade, as pistolas vêm pouco a pouco, dominando o espaço das armas curtas, em detrimento dos revólveres (veja, a respeito, SILVA JÚNIOR, O Calibre .40 S&W para os AFRF).
O revólver típico possui seis câmaras em seu tambor, ou seja, é capaz de dar seis tiros sem precisar de remuniciamento. Existem, porém, tambores com diferentes números de câmaras, indo de cinco a até dez.

 Pistola: arma curta de cano único, de alma raiada, que se destaca por funcionar em regime de fogo semi-automático e por possuir um carregador, destacável e facilmente recambiável, contendo vários cartuchos de munição. A “pistola” é também conhecida como “pistola semi-automática”, “pistola automática” e “automática”. Estes dois últimos nomes são inadequados, pois na verdade a pistola não possui fogo automático, mas sim semi-automático (Fig. 8).
Vale a pena comentar sobre a pistola verdadeiramente “automática”. Na Wikipedia se vê que “existem também alguns modelos totalmente automáticos - que podem disparar vários tiros enquanto se mantiver o gatilho pressionado. Sua eficácia é duvidosa, dado o pequeno tamanho da arma (cano) e cadência de tiros muito rápida” [destaque dos autores]. De acordo com Domingos Tocchetto (in Balística Forense – Aspectos Técnicos e Jurídicos), muito raras são as pistolas automáticas. As pistolas marcas HK (Heckler & Koch GmbH) modelo VP70M e Glock, modelo G18 C podem funcionar como semi-automáticas, produzindo um tiro de cada vez, ou como automáticas, produzindo rajadas de três tiros. Há a possibilidade de transformar uma pistola semi-automática Glock em pistola automática, com a colocação de uma pequena peça na região inferior do ferrolho, em sua extremidade posterior. Em outro artigo da mesma Wikipedia, original em francês, se lê: “as pistolas ‘de rajada’ permitem o tiro automático. Estas armas, que necessitam de um carregador de alta capacidade (sua cadência de tiro 

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em geral é muito elevada e a esvazia rapidamente), revelam-se muito difíceis de utilizar com precisão, sem treinamento constante, mesmo quando alguns modelos permitem a colocação de uma coronha apropriada (Beretta 93R, H&K VP70 em versão automática...)” [destaque dos autores]. Em outras palavras, as pistolas verdadeiramente “automáticas” nunca fizeram nenhum sucesso, pois na prática são inúteis.
Depois de mais de 100 anos de sua invenção, a pistola semi-automática mostrou que veio para dominar o campo das armas curtas de defesa e de uso policial. Comparando com o revólver, a pistola é mais compacta, tem maior capacidade de tiros, é muito mais fácil de remuniciar, tem o gatilho mais leve e normalmente possui vários mecanismos de segurança, como travas. Ademais, a pistola somente dispara quando possuir um cartucho na câmara, o que no jargão militar se chama de “carregada”.
Não existe um número típico de tiros para pistolas, mas são encontrados desde carregadores que suportam de meia dúzia de cartuchos a até mais de vinte cartuchos.

 


Garrucha: é um tipo de arma curta que não tem uma definição precisa. Popularmente, é comum chamar qualquer arma curta que não é um revólver e nem uma pistola de garrucha. Segundo Eraldo Rabello, a garrucha é, exclusivamente, a arma composta de duas armas de tiro unitário simples, montadas numa só armação. Caracteriza-se por ser de retrocarga e possuir dois canos predominantemente dispostos lado a lado, paralelamente ao plano vertical de simetria da arma.
Em outras palavras, a garrucha é uma arma curta de retrocarga, que pode disparar munição de revólver (mais comum), de pistola (mais raro), ou uma munição à parte. Não tem mecanismo de repetição, mas cada cano terá uma culatra e um mecanismo de disparo independentes, produzindo cada qual

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um disparo. No Brasil são muito comuns as garruchas de dois canos, em calibre .22, .32 e .380. 1.2.7 – Metralhadora X Submetralhadora
 Metralhadora: arma longa, de uso militar, com cano de alma raiada, que opera por ação automática, calçando calibres militares (iguais ou superiores aos dos fuzis). Essa arma deve ser operada sobre um reparo, o qual pode estar fixado em veículos, e normalmente necessita duas pessoas para funcionar adequadamente.
 Não obstante ser uma arma tipicamente militar, a metralhadora em calibre .30 tem sido utilizada em ações policiais, principalmente afixada em helicóptero, para fazer fogo de cobertura às ações de campo (Fig. 9).

Submetralhadora: arma longa (intermediária) portátil, com cano de alma raiada, que opera por ação automática, calçando calibres típicos de armas curtas (de pistola) (Fig. 10). É conhecida no meio militar como “metralhadora de mão”. Ao contrário dos fuzis, a submetralhadora não é feita para ser operada encostada ao ombro, mas sim na linha de cintura, naquilo que é conhecido como “visada secundária”.
 A rigor, a maneira de utilização da submetralhadora altera de acordo com a doutrina policial adotada. A doutrina norte-americana determina o emprego da submetralhadora com a coronha apoiada ao ombro, à semelhança de um fuzil. Já a alemã prevê o seu emprego projetada à frente, com os braços quase que totalmente esticados, sendo que seu “apoio” é feito pela bandoleira (a bandoleira é a correia onde se pendura a arma, para transporte), que fica tensionada nas costas do atirador. 
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 Essa é uma arma típica para ações policiais. É usada em operações especiais, como invasão de locais fechados e bloqueios que envolvam riscos de reação, bem como para segurança coletiva, de modo geral. A submetralhadora tem aplicações muito semelhantes às da espingarda 12, sendo por isso conveniente avaliar, em cada caso, qual dessas duas armas será mais adequada, lembrando apenas que um disparo de submetralhadora é semelhante a um disparo de carabina, podendo causar danos a longa distância (a rajada é mais problemática ainda).

Fig. 10 – Submetralhadora HK MP5-A2 calibre 9mm Parabellum. 1.2.8 – Monotiro X Repetição
 Monotiro: arma cujo mecanismo só admite dar um tiro de cada vez, dependendo o próximo disparo de nova recarga. Na prática significa que a cada tiro o atirador deverá, manualmente, extrair o cartucho deflagrado e inserir novo cartucho. No caso de arma de antecarga, a cada disparo deverá o atirador repetir todo o procedimento de recarga, pela boca da arma. Deverá, ademais, armar o mecanismo de disparo, em geral puxando o cão para trás.
Com o fim de superar um pouco a limitação do monotiro, é comum esse tipo de arma possuir dois canos. Pode ocorrer até mais de dois canos, mas isso torna a arma de difícil manuseio e porte.
A arma de monotiro não tem, atualmente, aplicação nem militar nem no trabalho policial. É usada, normalmente, em caça ou no tiro esportivo.
Repetição: é a arma que possui mecanismo que admite fazer vários disparos em seqüência, sem novo remuniciamento (no jargão militar diz-se “alimentação”). A rigor, tanto a arma automática como a semi-automática são também de repetição, pois admitem vários disparos antes de nova alimentação. No entanto, no uso corrente, o termo repetição exclui essas duas modalidades, referindo-se apenas àquelas armas cujo acionamento do próximo tiro se dá por ação do atirador, isto é, a força requerida para colocar o próximo cartucho em posição de tiro é fornecida pelo próprio atirador. Ao contrário, as armas automáticas e semi-automáticas utilizam a força gerada pela expansão dos gases da detonação, a fim de fazer a mesma operação. 
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As armas de repetição mais conhecidas são aquelas acionadas por tambor (revólver), por ação de alavanca (carabina tipo winchester), por bomba (carabina Flaubert e espingarda 12), por ferrolho (fuzil Mauser 1898).
As armas de repetição (bem como as automáticas e semi-automáticas) são sempre armas de retrocarga. A repetição, cujas formas incipientes e rudimentares surgiram ainda na primeira metade do século XIX, só foi possível depois da invenção do cartucho. Antes da invenção do cartucho as armas tinham que ter a culatra fechada, sob pena de retorno da detonação, com danos ao atirador. A culatra podia possuir apenas um pequeno evento por onde se colocava o rastilho de pólvora, o pavio, ou a espoleta, conforme o caso.
O cartucho permitiu a retrocarga, sem perigo do “tiro sair pela culatra”, dada a sua capacidade de dilatação e a sua grande resistência ao aumento de pressão (quando devidamente alojado na câmara). Ademais, não é possível se pensar em repetição com arma de carregar pela boca, cuja operação é composta de uma seqüência de atos, como colocar a espoleta, medir e colocar a pólvora, inserir a bucha, colocar o projétil etc. 1.2.9 – Repetição X Automática (Semi-Automática)
 Repetição: arma de retrocarga, que tem a capacidade de dar vários tiros em seqüência, sem precisar de nova alimentação (remuniciamento). Após cada disparo o atirador deverá executar uma ação, manejando um mecanismo próprio, integral à arma, para retirar o cartucho deflagrado e colocar outro no lugar. Esse acionamento repetitivo poderá ocorrer até a deflagração do último cartucho que esteja alojado no carregador da arma.
 Tipicamente, ao ser manobrado o mecanismo de repetição, o extrator é acionado, de forma a descartar o estojo (cartucho vazio), seguido pelo funcionamento de um elevador que coloca o novo cartucho, íntegro, na entrada da câmara, a qual, com a volta do ferrolho para a posição inicial, é fechada, após o cartucho ser empurrado para o seu interior. Nesse ciclo o cão é armado (engatilhado), ficando a arma pronta para executar novo disparo, bastando para isso que o atirador pressione, levemente, a tecla do gatilho.
No caso do revólver, em particular, o acionamento se dá pela simples “puxada” da tecla do gatilho, pelo atirador. Não há, durante a seqüência de tiros, extração de cartuchos deflagrados, mas apenas o giro parcial do tambor, com o alinhamento do próximo cartucho com o cano. Ao premir a tecla do gatilho, ao mesmo tempo em que o cão é levado para trás (armado ou engatilhado), uma pequena alavanca empurra o tambor, geralmente no sentido anti-horário, e alinha uma câmara com o cano, deixando o cartucho, ali contido, em condições de disparo. Depois de encerrar a seqüência de tiros o atirador deverá realizar a extração dos cartuchos deflagrados, antes de poder remuniciar (alimentar).
Automática: arma de retrocarga, que tem a capacidade de dar vários tiros em seqüência, sem precisar de nova alimentação (remuniciamento) e sem que o atirador execute qualquer ação entre um disparo e outro. A seqüência de tiros disparada pela arma automática é chamada de rajada. Uma vez premida a tecla do gatilho, enquanto a mesma permanecer premida pelo dedo do atirador, 
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a rajada será contínua, somente parando depois de detonado o último cartucho de munição que esteja alojado no carregador.
Os mecanismos de recarregamento e disparo funcionam de forma plenamente automática (depois do primeiro disparo), o que é logrado pelo aproveitamento da alta pressão criada pelos gases em expansão, gerados pela queima da pólvora. A ação se dá, simplificadamente, da seguinte forma: um cartucho íntegro precisa, inicialmente, ser colocado, pelo atirador, na câmara, o que se consegue pela manobra manual do ferrolho (já estando o carregador municiado e devidamente alojado em seu compartimento). Ao manobrar o ferrolho, o atirador estará também armando o cão (engatilhando). Nas armas automáticas e semi-automáticas existe uma mola de recuperação do ferrolho, que o traz de volta à posição inicial, deixando todo o mecanismo pronto para o primeiro disparo.
Acionada tecla do gatilho, ocorre a detonação, com o tiro sendo disparado. A rápida expansão dos gases produzidos pela queima da pólvora, além de empurrar o projétil para frente, também empurra o ferrolho da arma para trás, refazendo toda a operação de recarga, automaticamente (ocorre a extração e ejeção do estojo vazio do cartucho, seguida da colocação de novo cartucho na câmara). Como se trata de arma automática, se a tecla do gatilho continuar pressionada (enquanto o atirador não retirar do dedo do gatilho), depois que o ferrolho retornar à posição inicial o cão percutirá novamente, causando nova detonação e todo o processo se repetirá. Tanto para armas automáticas quanto semi-automáticas, os mecanismos de recarregamento e engatilhamento seguem dois sistemas principais: o blow-back, para pistolas e o sistema de aproveitamento de gases, com cilindro e êmbolo, para outras armas (submetralhadoras e fuzis). O blow-back é simplesmente a aplicação prática da 3ª Lei de Newton, ou seja a lei da ação e reação. A energia que empurra o projétil para frente, ao mesmo tempo empurra o ferrolho para trás. Já o mecanismo de aproveitamento de gases funciona com uma intermediação, ou seja, primeiro os gases em expansão são coletados por um cilindro, dentro do qual existe um êmbolo. Esse êmbolo é que aciona o ferrolho, levando-o para trás. Em geral existe um retardamento de milésimos de segundo, entre a detonação e a ciclagem (movimentação do ferrolho), o que tende a dar mais estabilidade para a arma. Em ambos os sistemas o ferrolho volta para a posição inicial por força de sua mola de recuperação. São típicas armas automáticas as metralhadoras, as submetralhadoras, os fuzis de assalto e algumas carabinas. Semi-automática: arma de retrocarga, que tem a capacidade dar vários tiros em seqüência, sem precisar de nova alimentação (remuniciamento), bastando que o atirador, a cada disparo, libere e volte a premer a tecla do gatilho. A arma semi-automática não dá rajada, dependendo cada tiro, de uma “puxada” na tecla. A arma continuará fazendo disparos até que o último cartucho que se encontra no carregador seja disparado. Os mecanismos de ejeção do estojo vazio e de recarregamento funcionam de forma plenamente automática (depois do primeiro disparo), exatamente da mesma forma como ocorre com a arma automática (vide
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acima). O mecanismo é precisamente o mesmo da automática, com a exceção de que o cão nunca percute, a não ser depois da tecla ser novamente premida. São típicas armas semi-automáticas as pistolas e as carabinas, bem como alguns fuzis mais antigos. Existe também, já de forma bastante difundida e confiável, a espingarda calibre 12 semi-automática.
1.2.10 – Tipos de Ação: Ferrolho, Alavanca, Bomba  As armas de repetição funcionam com diversos mecanismos, sendo os mais conhecidos a ação por ferrolho, por alavanca e por bomba.  Ação por Ferrolho: o ferrolho é um mecanismo móvel, instalado na culatra da arma, que tem a função de carregar (colocar um cartucho íntegro na câmara) e extrair o estojo vazio, para novo carregamento. Ele funciona abrindo a janela de ejeção, para ejetar o estojo, e fechando essa mesma janela, para carregar. Durante o tiro o ferrolho funciona trancado, a fim de evitar incidentes de tiro e acidentes. Na verdade, também as demais armas de repetição e mesmo as semi-automáticas e automáticas possuem ferrolho, entretanto, por razões históricas, apenas um tipo específico de mecanismo de repetição é chamado de “ação por ferrolho”. Nesse mecanismo, o ferrolho da arma possui uma pequena haste (uma alavanca externa), a qual é movida pelo atirador antes de cada disparo, em quatro movimentos seguidos, quais sejam, o destrancamento do ferrolho, a abertura da janela (ferrolho para trás), o fechamento da janela (ferrolho para frente) e trancamento do ferrolho. Muitos fuzis antigos e muitas carabinas atuais utilizam esse tipo de ação, sendo o Fuzil Mauser 1898, a arma mais famosa a operar com ação por ferrolho. Esse fuzil, modificado para calçar o calibre 7,62mm, é conhecido no Brasil como Mosquefal Mq 7,62, sendo ainda utilizado pelo Exército Brasileiro nos treinamentos dos Tiros de Guerra
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Ação por Alavanca: essa arma possui uma haste embaixo da caixa de culatra, que começa à frente da tecla do gatilho (onde é fixada por um pino, que lhe serve de eixo), servindo como guarda-mato, e formando uma espécie de elipse, que vai até próximo da empunhadura da coronha. Essa haste é a alavanca que, ao ser acionada para frente e para trás (movimento circular), movimenta o ferrolho da arma, extrai e recarrega. A posição da alavanca faz com que, enquanto o dedo indicador do atirador aciona a tecla, os outros quatro dedos permanecem dentro do arco formado pela “cauda” da alavanca, de modo a facilitar o seu rápido acionamento (Fig. 12).
A arma mais famosa e também a mais antiga a utilizar esse sistema é a carabina Winchester, conhecida no Brasil como “Papo-Amarelo”. No Brasil, com esse mecanismo, existe a carabina Puma, da Rossi. Ação por Bomba: a telha (guarda-mão) dessa arma é, ao mesmo tempo, a alavanca de acionamento do ferrolho (Fig. 13). A extração/ejeção e o recarregamento ocorrem com o movimento para trás e para frente da telha, como se o atirador estivesse acionando uma bomba de encher pneu de bicicleta. Vulgarmente e de forma chula esse tipo de arma é conhecida como “punheteira”.
As armas mais conhecidas que operam com essa ação são a carabina “flaubert”, em calibre .22 (também chamada, por corruptela, de “falobé” ou “folobé”) e a espingarda calibre 12, de repetição (também conhecida pela palavra inglesa “pump”). 
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CAPÍTULO 2
MUNIÇÃO
2.1 – Conceito e Estrutura
 É o componente autônomo e separado, essencial ao funcionamento da arma de fogo, que além de fornecer o projétil (ou os projéteis), que será disparado em cada tiro, tem também a capacidade de, uma vez percutido pelo percutor da arma, iniciar a detonação que impelirá o projétil.
O conceito apresentado acima foi dado no sentido singular, ou unitário, que tem o sinônimo de cartucho, porém a palavra munição é bastante usada no sentido coletivo, isto é, como um conjunto de cartuchos.
Uma munição, ou melhor, um cartucho de arma de fogo, é, na verdade uma unidade composta formada, tipicamente, de um estojo, uma espoleta, certa quantidade de propelente (pólvora) e um projétil. Esse é o típico cartucho “a bala”, utilizado em armas de cano de alma raiada
O estojo é, normalmente, um cilindro (pequeno tubo) de latão ou de outro material (cobre, alumínio, teflon, outra liga de metal e até plástico ou papelão) aberto na parte de cima e fechado no fundo, com um aro externo, o qual tem a função de ser acionado pela garra do extrator (trata-se, na verdade, de um sulco perimetral, chamado gola, podendo o estojo ser com aro, semiaro, ou sem aro). O estojo é a base, ou seja, a verdadeira estrutura do cartucho, não obstante não participar diretamente na detonação. É o estojo que proporciona a unidade do conjunto chamado cartucho.
Nas armas de antecarga não existe estojo, pois a munição é montada dentro do cano da arma, no momento mesmo do tiro. De acordo com Tocchetto, “nos cartuchos de munição para armas raiadas, o estojo é cilíndrico, ou levemente cônico, liso ou estrangulado em sua região anterior, com gargalo. A forma cônica visa facilitar sua extração, após o tiro, da câmara em que estiver alojado. Os esto
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dotados de gargalo são os do tipo garrafa e integram cartuchos usados em carabinas, fuzis e, também em alguns tipos de pistolas. Estes estojos são mais calibrosos do que os projéteis e, por isso, têm a sua porção anterior estrangulada em gargalo, sendo usados em cartuchos destinados a armas curtas e longas de grande potência e de pequeno calibre”. Dessa forma, observamos que os cartuchos tipo garrafinha são assim chamados por se parecerem com uma garrafa de cerveja, sendo que o gargalo (correspondente ao calibre da arma) é muito mais estreito que o corpo do estojo, local onde se aloja o propelente (a pólvora) (Fig. 15).
Já os cartuchos próprios para espingardas, destinados a receber uma carga de esferas de chumbo, ou balins, têm sempre a forma cilíndrica, podendo ser levemente cônicos.
A espoleta é um pequeno “cadinho” contendo em seu interior uma mistura iniciadora, com alto poder detonante, que é atualmente o estifinato de chumbo (vide Horta, 1996, 16). Além do estifinato de chumbo, a CBC usa também em suas espoletas o nitrato de bário, o trissulfeto de antimônio, o tetrazeno e o alumínio atomizado. As proporções desses componentes variam conforme o tipo de mistura e o tipo de munição, ou seja: fogo circular, fogo central comercial, fogo central militar.
A mistura iniciadora dos cartuchos de fogo circular (ver abaixo) não possui alumínio, pelo fato de ela estar em contato direto com a pólvora e não haver necessidade da produção de chama muito grande ou muito viva.
Em 1998 a CBC lançou no mercado os cartuchos denominados “clean range”, cuja mistura iniciadora da espoleta não possui chumbo, bário e antimônio. Essa mistura é composta por diazol, nitrato de estrôncio, pólvora e tetrazeno. A partir de 2002 a mistura iniciadora dos cartuchos clean range passou a ter a seguinte composição: diazol, tetrazeno, nitrocelulose, nitrato de potássio, vidro e alumínio.
A espoleta é colocada em um “bolso” existente no fundo do cartucho, separada do propelente (pólvora) por uma parede interna que possui um pequeno evento (janela), por onde deverá passar a faísca iniciadora da combustão.
Em termos de mistura iniciadora (espoleta), existem dois tipos de cartucho: de fogo circular e de fogo central. O de fogo central
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cartucho que possui uma espoleta, propriamente dita, cujo bolso fica exatamente no meio do círculo formado pelo fundo do cartucho. A percussão se dá precisamente no centro. O cartucho de fogo circular (Fig. 17), não possui, propriamente, uma espoleta, pois a mistura iniciadora é colocada por dentro do culote do estojo, no entorno (nunca no centro), o que impõe que a percussão se dê, necessariamente, em uma lateral qualquer do fundo do cartucho. Tal tipo de cartucho nem possui bolso para espoleta
A grande maioria das munições é de fogo central, sendo considerado ultrapassado o cartucho de fogo circular. O mais famoso, ainda em uso, é o .22 (LR e Curto).
Existem três tipos principais de espoleta:
Boxer: a mais usada, hoje em dia, possui embutida nela mesma uma espécie de mini-bigorna, contra a qual é pressionada a mistura, ao ser percutida. Esse tipo de espoleta facilita a recarga doméstica de munição
Funcionamento: quando a espoleta é percutida pelo percutor da arma (popularmente chamado de “agulha”) ela imediatamente produz uma faísca, ou pequena chama, que é lançada em direção à pólvora, fazendo com que esta inicie a queima.
Propelente: é o produto químico altamente adustível, cuja combustão rápida (frações de segundo), gradual e controlada, iniciada dentro do estojo e continuada ao longo do cano da arma, produz gases quentes em rápida expansão, cuja pressão empurra o projétil para frente, embutindo nele enorme quantidade de energia cinética. O propelente mais conhecido e mais usado é a pólvora.
As pólvoras mais antigas recebem o nome de “pólvora negra”. Essa pólvora foi substituída pela chamada “pólvora sem fumaça”, em função das enormes vantagens desta última. A pólvora negra gera muito menos energia cinética, com maior calor, dependendo, portanto, de maior quantidade, além de produzir muita fumaça e ser altamente corrosiva, causando deterioração rápida dos canos das armas.
Já a chamada “pólvora sem fumaça”, que como o nome diz, produz menor quantidade de fumaça, gera pressões muito superiores, para muito menor quantidade, além de ser bem menos corrosiva e poluente. Esta pólvora foi inventada em meados do Século XIX, pelo químico francês chamado Vielle.
A pólvora sem fumaça é baseada na nitrocelulose. Existem, porém, a pólvora de base simples e a de base dupla. A de base dupla, inventada por Alfred Nobel, recebe um tratamento de nitroglicerina sobre a nitrocelulose. A pólvora de base simples é a de uso mais generalizado (dependendo do tipo de munição), tendo em vista que é mais estável e trabalha com menor calor, causando menos danos ao cano da arma (Fig. 21).